Duna: A análise do épico de Denis Villeneuve (sem spoilers)

Bruno Birth
4 min readOct 16, 2021

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Finalmente Duna está chegando aos cinemas de todo o mundo, com estreia no Brasil em 21 de outubro. Graças a um honroso convite da Warner Bros Brasil, eu fui um dos convidados para uma cabine de imprensa do filme, que ocorreu na última sexta-feira (15/10), e vou agora desenvolver minhas reflexões sobre a adaptação cinematográfica mais aguardada dos últimos anos. Muito obrigado, Warner Bros Brasil pelo convite!

Ao terminar de assistir as 2h35min do filme, a sensação que ficou é o tamanho da dificuldade de se adaptar Duna, a clássica obra de ficção científica escrita pelo norte-americano Frank Herbert e publicada em 1965. O livro é complexo, cheio de camadas narrativas e personagens marcantes, além de se estabelecer em um contexto de atmosfera completamente alienígena, apesar de ser povoado apenas por humanos.
E é aqui que já desenvolvo minha primeira opinião sobre o trabalho de Denis Villeneuve (Incêndios, Sicário, A Chegada e Blade Runner 2049). O cineasta conseguiu, com maestria, trazer para a tela a essência de pura estranheza que existe no livro. A narrativa de Duna leva a humanidade para cerca de 30 mil anos no futuro, sendo que tamanho período de distância temporal exerce um peso antropológico absurdo nas formações sociais do universo de Duna, com comportamentos a nível pessoal e coletivo muito alheios ao que se tem nos cotidianos da atualidade. Esse é um exercício reflexivo bem legal de se fazer no que concerne a contemplar obras de ficção científica futurista. Em suma e por diversos motivos desenvolvidos por Frank Herbert no livro, os núcleos humanos do universo de Duna são praticamente alienígenas em comparação aos núcleos humanos do planeta Terra atual, por se tratarem de humanidades muito diferentes, algo que Denis Villeneuve soube muito bem expressar em tela, através do gerenciamento dos impecáveis aspectos técnicos do filme.

Como falei acima, é muito difícil adaptar Duna. Villeneuve se virou para compôr cenas que não existem no livro, mas que poderiam funcionar audiovisualmente para passar a essência da construção de enredo que existe no material base; também utilizou diálogos que no livro são falados por algum personagem e no filme por outro ou mesmo implementou cenas que acontecem em momentos diferentes na comparação entre livro e filme. Em conjunto com Erick Roth (Forrest Gump e O Curioso Caso de Benjamin Button), Villeneuve fez tudo isso para construir um filme cujo roteiro pudesse fluir como a especiaria mélange para as pessoas que já são fãs da obra original, ao mesmo tempo que trouxesse para dentro de sua narrativa o interesse do público que nada de Duna conhece.
O resultado é um filme de caráter introdutório - que por si só um aspecto de difícil execução cinematográfica, no que concerne a filmes sobre construção de mundo - que funciona muito bem em sua maior parte, se utilizando de um minucioso trabalho técnico composto por um visionário design de produção, fotografia contemplativa, figurinos detalhados e trilha sonora épica. Tudo isso trabalhando em conjunto para prender o espectador através das sensações.

O diretor trouxe para a tela o que pôde das discussões filosóficas e antropológicas que são peças-chave da narrativa que Frank Herbert refletiu no livro. Além disso, nos apresentou de maneira inteligente o planeta Arrakis, em momentos prezando por uma bem medida dose de explicação didática, em outros utilizando sua já conhecida expertise de composição fotográfica para ilustrar o deserto - que por si só é um personagem da obra -, bem como para representar a situação cultural, social e tecnológica dos povos do planeta desértico chamado de Duna pelos fremen, os importantíssimos povos nativos.
Inclusive, aplaudo de pé a escolha de Denis Villeneuve correlação ao aspecto de diversidade étnica baseada nas raças árabe e preta que forma o povo fremen, algo que faz parte da obra original, como concebida pelo próprio Frank Herbert, e que foi totalmente ignorado pelas fraquíssimas adaptações anteriores de Duna.

O roteiro desenvolve os protagonistas e o contexto em volta deles de modo bem satisfatório. Era necessário explicar para o grande público quem são os protagonistas, de que se forma os contextos em que eles atuam, e deixar o terreno preparado para o próximo filme. Correlação aos protagonistas, Denis Villeneuve teve êxito nessa missão.
Estamos falando de um filme que adapta um livro, então é inevitável que algumas cenas que existem em um sejam cortadas em outro. Mas em Duna há muitos personagens importantes, como citei acima, sendo que para alguns a falta de adaptação de algumas cenas do livro, que lhes serviriam de importante desenvolvimento narrativo, claramente fizeram falta ao filme. Quando o desfecho desses personagens chega (não falarei quem para não dar spoiler) o filme peca em transmitir a devida dramaticidade que a trama precisa. Não acho que seja algo que fere absurdamente a obra como um todo, mas é sim um pequeno defeito.

Acredito que Denis Villeneuve se esforçou e conseguiu muito bem apresentar os principais pontos da construção do universo de Duna em seu filme, o que tem o potencial de acender uma verdadeira labareda de curiosidade para quem está chegando agora para conhecer esse famoso e complexo planeta desértico. O filme Duna se baseia em uma direção muito inteligente, bela e extremamente artística, algo que poucas vezes se vê no cinema.
Se você tiver a oportunidade, veja Duna na maior tela e na melhor atmosfera acústica que puder encontrar. Estou falando de um épico de escala gigantesca e que vai sim ficar marcado como um dos maiores filmes de ficção científica da história.

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Bruno Birth

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