Os Anéis de Poder Temporada 2: Análise dos Episódios 1–3

Bruno Birth
5 min readSep 4, 2024

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Sauron se revela para Celebrimbor como Annatar, o Senhor das Dádivas

Enfim, os longos dois anos desde o lançamento de Os Anéis de Poder se passaram e aqui estamos, meus amigos e amigas, diante da segunda temporada da super produção da Amazon que se propõe a trazer para a tela a Segunda Era do Legendarium de Tolkien.
Eu assisti duas vezes aos três episódios iniciais, lançados dia 29/08 e aqui vos trago minhas reflexões sobre a obra.

Antes de mais nada, devo dizer a vocês que não, Os Anéis de Poder NÃO É uma adaptação audiovisual de uma obra literária. Pelo menos não na forma como conhecemos a arte da adaptação. Por que estou dizendo isso? Veja, nos materiais disponibilizados pela Tolkien Estate para a Amazon não existe um lastro narrativo literário das histórias da Segunda Era pelo qual a série pode seguir seu enredo de maneira a iniciar, desenvolver e fechar um arco. Os apêndices de O Senhor dos Anéis reúnem diversas informações sobre os principais eventos da Segunda Era, espaçados em enormes linhas temporais, ou seja, desconectados de uma corrente narrativa comum.
O trabalho de Peter Jackson em sua trilogia cinematográfica é uma adaptação, pois segue uma única história, que possui começo, meio e fim. Já a série Os Anéis de Poder precisa ser considerada uma obra BASEADA no espaço de tempo da Segunda Era inteira.
Em que isso acarreta? Uma série de TV deve contar uma história. Se assim não fizer, já não é mais série de TV. Suponhamos que a Amazon decidisse adaptar de fato a Segunda Era, seguindo a risca a ordem cronológica dos acontecimentos descritos nos apêndices, bem como as árvores genealógicas neles descritas. Isso tornaria Os Anéis de Poder uma série documentário, percebe? Uma vez que não há dramaticidade envolvida na escrita de um roteiro, haja visto que não há desenvolvimento narrativo contínuo (teríamos personagens nascendo e morrendo a cada episódio), a maneira de se contar a história se atrela ao documental, em vez do narrativo dramático.
Em Os Anéis de Poder, contudo, há um grande esforço para comprimir o espaço de tempo entre as histórias, colocando em concomitância personagens separadas por centenas ou até milhares de anos; um recurso necessário para o fim de se fazer fluir uma narrativa dramática contínua.
É de suma importância entender esses fatores para que se possa assistir à série da Amazon sem compreendê-la de modo equivocado, sem querer que ela siga diretamente o que está escrito no Legendarium.
Explique isso para aquele seu colega que diz odiar a série por ela “não seguir o que está nos livros”. Qualquer pessoa que conseguir entender tal realidade, aproveitará a série como ela deve ser entendida, em vez de criar expectativas infundadas.

Bom, partindo para os episódios em si, a segunda temporada de Os Anéis de Poder vai ao que interessa, de modo claro e objetivo. Os showrunners parecem ter absorvido as críticas relacionadas ao ritmo fraco de alguns momentos (especialmente no núcleo de Númenor) da temporada passada e parecem não querer mais enrolar no que não é necessário. Diversos eventos super importantes já acontecem nestes três primeiros episódios, após uma excelente e muito necessária conexão de acontecimentos envolvendo a introdução de Sauron na história. Sério, que prólogo espetacular.

Sam Hazeldine é o novo ator sob a pele de Adar.

Nem parece que houve troca de atores para o tão importante personagem Adar. Através do novo panorama estabelecido pelo prólogo, detemos maior conhecimento de sua relação com os orques, seus descendentes, e sua rivalidade com Sauron, o que exponencia suas motivações e gera maior expectativa sobre seus próximos passos. A série estava travada nesse sentido, uma vez que não tínhamos todas as respostas acerca do segredo de Halbrand, algo que foi feito de propósito pelos roteiristas para que detalhes nos fossem apresentados só agora. Um grande acerto que muda até mesmo a forma como enxergamos os eventos da temporada 1.

Khazad-dum.

A necessidade de solução de problemas macro-sociais surge como artifício narrativo para a feitura dos anéis de poder, em uma medida de controle de danos que acelera o enredo em torno dos personagens. Cada raça enfrenta danação distinta, cuja solução apresentada pelo caráter de cura dos anéis surge de maneira fluida, coesa no roteiro. Está claro como a escrita se encontra mais “redondinha” nessa temporada, pois era necessário responder com muita objetividade para que os anéis deveriam ser feitos e quem são aqueles que devem usá-los. Mais um grande acerto.

Celebrimbor.

Algo que eu estava muito ansioso para ver é como encaixariam a chegada de Annatar em Eregion na narrativa. Impressiona a habilidade descrita nos diálogos de Celebrimbor e Sauron, totalmente montados com meticulosidade para que o objetivo de enganação do célebre elfo ferreiro fosse alcançado. Tudo isso culminando na cena mais incrível de toda a série até aqui: a revelação de Annatar.
De maneira geral, a parte técnica da série cresceu absurdamente, sendo que já era excelente na temporada antecessora. Trilha sonora, efeitos e direção correm em conformidade, com maior sintonia com os eventos na tela, fazendo com que o tempo dos episódios voe. O ritmo, como eu disse, agora é outro.

Ar-Pharazon.

A exceção nesse sentido ainda é Númenor. Sinto a necessidade de planos maiores e a presença de mais figurantes nas cenas. A coroação de Tar-Míriel foi muito aquém do esperado, pois a ilha ainda parece habitada por meia dúzia de pessoas.
Narrativamente falando, todavia, o exemplo de urgência bem gerenciada por um roteiro fluido segue aqui. Gosto demais como, pavimentados por uma histeria social já estabelecida na temporada passada, avançaram com os desdobramentos do golpe de estado de Pharazon.

Pouco tenho a acrescentar sobre o estranho e Pelargir, pois creio que teremos mais desses núcleos nos próximos episódios. O ponto alto correlação a Pelargir, até aqui, ficou no excelente diálogo entre Isildur e Estrid, no qual o filho de Elendil expõe um pouco mais de sua personalidade baseada em traumas, sementes de algo que vai impactar em seus feitos bem no futuro da narrativa. Isildur receber conselhos de alguém como Estrid foi muito interessante para o personagem quebrado que ele se tornará.
De novo, um roteiro que sabe onde pisa e como pisa.

Por hoje é isso, galera. Estarei publicando análises de cada episódio lançado.
Para aqueles que me acompanham há anos, eu sei, pessoal, ando publicando bem pouco aqui. Prometo me esforçar para voltar à ativa.
Me sigam nas redes sociais (clique aqui) e até a próxima!

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Written by Bruno Birth

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